No universo da psicanálise, Jacques Lacan introduziu o conceito do Nó Borromeano para representar graficamente como três dimensões fundamentais da experiência humana — o Real, o Simbólico e o Imaginário — estão interligadas de maneira indissociável. Inspirado na forma de um nó formado por três anéis entrelaçados, o Nó Borromeano carrega um significado profundo: se um dos anéis se rompe, os outros dois também se desfazem, perdendo a conexão que os mantém unidos.
Mas o que isso realmente significa para a nossa vida psíquica?
Os Três Registros da Experiência Humana
Lacan descreveu o Real, o Simbólico e o Imaginário como registros que estruturam nossa subjetividade:
- O Real
O Real é aquilo que está além do que podemos simbolizar ou imaginar. Ele corresponde ao que existe de forma crua e irredutível, mas que escapa à nossa capacidade de compreensão total. É o trauma, o imprevisto, o que não conseguimos dominar com palavras ou significados.- O Simbólico
O Simbólico é o domínio da linguagem, das leis e das normas. É nele que construímos significados para as experiências e que organizamos a nossa existência em torno de narrativas que dão sentido à nossa vida.- O Imaginário
Já o Imaginário está relacionado às imagens e às percepções que criamos sobre nós mesmos e os outros. Ele é o campo da fantasia, das identificações e das ilusões que nos ajudam a dar forma à nossa identidade.O Equilíbrio Psíquico no Nó Borromeano
Para Lacan, o equilíbrio psíquico depende da conexão harmoniosa entre esses três registros. Se o Simbólico falha, por exemplo, e perdemos a capacidade de dar sentido às experiências, podemos ser engolidos pelo Real, que se torna uma fonte de angústia incontrolável. Da mesma forma, se ficamos presos no Imaginário, podemos nos distanciar tanto da realidade que nossa visão do mundo se torna ilusória e frágil.
Esse modelo nos ensina que a saúde mental não é a ausência de conflitos, mas a capacidade de manter esses registros conectados, permitindo que cada um cumpra seu papel.
Como o Nó Borromeano Pode Nos Ajudar?
Trazer o conceito do Nó Borromeano para o cotidiano significa refletir sobre como estamos lidando com essas três dimensões em nossa vida:
- Estamos enfrentando a realidade, ou fugindo dela?
- Damos significado às nossas experiências, ou sentimos que estamos à deriva?
- Reconhecemos nossas fantasias e identificações, sem nos perder completamente nelas?
Cuidar do equilíbrio entre essas dimensões é um exercício constante. Não se trata de perfeição, mas de buscar formas de integrar o que vivemos, sentimos e pensamos.
Reflexão Final
O Nó Borromeano é um lembrete poderoso de que nossa psique funciona como um todo interconectado. Se negligenciarmos uma dimensão, podemos comprometer o equilíbrio de todas as outras. A pergunta que Lacan nos convida a fazer é: Como você tem cuidado do Real, do Simbólico e do Imaginário em sua vida?
Que tal começar a observar essas dimensões com mais atenção? Às vezes, o primeiro passo para a transformação é simplesmente reconhecer o que precisa de cuidado.
Aqui estão referências sobre o conceito do Nó Borromeano em Lacan e de outros autores que abordaram o tema:
- Jacques Lacan: Lacan explora o Nó Borromeano principalmente no Seminário 22 (1974-1975), intitulado R.S.I.. Nele, ele discute como o nó conecta os registros do Real, Simbólico e Imaginário, e como isso afeta a constituição subjetiva. O Seminário 23 (O Sinthoma) também é relevante, onde Lacan propõe a adição de um quarto elemento, o sinthoma, como sustentação do nó borromeano e do sujeito. Essas obras mostram sua análise topológica e clínica do conceito.
- Carlos Eduardo Barbosa da Silveira: Em seu texto sobre o nó borromeano, o autor discute as propriedades topológicas do conceito em Lacan e a relação com o gozo, incluindo o conceito do sinthoma como solução para a inconsistência estrutural dos registros. Ele ressalta a importância do “furo” ou vazio central no nó, evidenciando o espaço entre o Real e o Imaginário como locus do impossível.
- Estudo de Soury (1988): Soury aborda a incompletude no nó borromeano e as possíveis extensões do modelo lacaniano, incluindo a introdução do sinthoma e sua relação com o sujeito. Ele analisa as dificuldades teóricas e clínicas presentes no uso do conceito, enfatizando a articulação dos três registros e o papel do gozo no tratamento.
Essas obras formam uma base rica para entender o Nó Borromeano, tanto no contexto original de Lacan quanto nas interpretações e expansões feitas por outros autores. Para aprofundar, consulte o Seminário 22 e 23 de Lacan e os textos mencionados disponíveis em fontes como SciELO e PePSIC.
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