“Um Homem de Sorte”, um filme rico em camadas, oferece um terreno fértil para análise psicanalítica. A história de Per, um jovem dinamarquês em busca do sucesso, nos convida a explorar os meandros do desejo, da repressão e da busca pela felicidade.
O Ego e a Busca Incessante pelo Sucesso
A trajetória de Per é marcada por uma ambição desmedida, que o leva a perseguir o sucesso a todo custo. Essa busca incessante encontra eco na teoria psicanalítica de Jacques Lacan, que define o Ego como a instância psíquica que media nossa relação com o mundo externo e busca satisfazer nossas necessidades.
“O desejo é o motor do Ego.” – Jacques Lacan, Escritos (1966)
Rrepare nesses três trechos abaixo:
- “Eu farei qualquer coisa para ter sucesso.” – Essa frase revela a ambição desmedida de Per, que o leva a perseguir seus objetivos a qualquer custo. Essa busca incessante pode ser interpretada como um sintoma do desejo incessante do Ego, que busca satisfazer suas necessidades.
- “Eu não me importo com o que os outros pensam.” – Essa frase demonstra a dificuldade de Per em se conectar com seus sentimentos e com os outros. Essa desconexão pode ser interpretada como um sintoma da repressão, que o impede de ter relacionamentos saudáveis.
- “Eu me sinto vazio. Não tenho nada.” – Apesar de ter alcançado o sucesso material, Per sente um vazio existencial. Essa lacuna demonstra que a felicidade não reside apenas na conquista externa, mas também na conexão com nossos desejos mais íntimos.
No entanto, a busca por sucesso externo de Per o distancia de suas necessidades mais profundas, levando-o a um vazio existencial. Essa lacuna demonstra que a felicidade não reside apenas na conquista material, mas também na conexão com nossos desejos mais íntimos.
Repressão e Mecanismos de Defesa
Per, em sua busca incessante pelo sucesso, reprime seus sentimentos e emoções negativas. Esse mecanismo de defesa, analisado por Lacan, o impede de ter um relacionamento saudável com os outros e consigo mesmo.
“A repressão é o processo pelo qual o sujeito expulsa do campo da consciência uma representação que lhe é intolerável.” – Jacques Lacan, O Seminário, Livro 5: As Formações do Inconsciente (1957)
A negação de seus sentimentos por Inga, sua ex-esposa, é um exemplo claro dessa repressão. Ao ignorar suas cartas e pedidos, Per se aprisiona em uma vida sem amor verdadeiro.
A Repressão dos Sentimentos
- “Eu não posso chorar. Eu sou um homem.” – Essa frase revela a dificuldade de Per em lidar com suas emoções, especialmente a tristeza e a vulnerabilidade. Essa dificuldade pode ser interpretada como um sintoma da repressão, que o impede de expressar seus sentimentos de forma saudável.
- “Eu esqueci como amar.” – Essa frase demonstra a capacidade de Per de reprimir seus sentimentos amorosos. Essa repressão pode ser interpretada como um mecanismo de defesa que o protege da dor da perda e do abandono.
- “Eu não acredito em Deus. Eu só acredito em mim mesmo.” – Essa frase revela a ruptura de Per com os valores religiosos e a construção de sua própria identidade. Essa ruptura pode ser interpretada como um sintoma da rebeldia contra a autoridade paterna e a busca por autonomia.
A Relação com o Pai e a Figura Autoritária
A relação conturbada de Per com seu pai, um pastor protestante rígido, representa a luta contra a autoridade e a busca por autonomia. Essa rebeldia encontra eco na teoria lacaniana, que define o Nome-do-Pai como a Lei simbólica que organiza a sociedade e o desejo humano.
“O Nome-do-Pai é a lei que regula o desejo humano.” – Jacques Lacan, O Seminário, Livro 8: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise (1964)
Ao desafiar a autoridade do pai, Per busca construir sua própria identidade e se libertar das amarras do passado.
Referências:
- Lacan, J. (1966). Escritos. Paris: Seuil.
- Lacan, J. (1957). O Seminário, Livro 5: As Formações do Inconsciente. Paris: Seuil.
- Lacan, J. (1964). O Seminário, Livro 8: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Paris: Seuil.
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